Sobre Galãs e Adamantium ou “Diga uma mentira várias vezes até que ela se torne verdade”.


Eu preciso admitir que sou um cara irritante, mais que irritante, sou implicante mesmo, dito isso passo para uma segunda consideração: Reconheço que Hugh Jackman é um ator talentoso e nada tem a ver com o fato de ser o Wolverine no cinema, o papel lhe caiu no colo (após a impossibilidade de agenda de Dougray Scott), ele era desconhecido, ficou para repescagem, e convenhamos, ele é quem é hoje em Hollywood graças à oportunidade que agarrou com “garras” e dentes (péssimo trocadilho). Feita a defesa apropriada do referido ator e antes de tecer meus comentários, busco na sabedoria do genial Nelson Rodrigues o embasamento para esse meu desabafo: “Toda unanimidade é burra”.

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Olha a pinta do galã

Sigamos então para meu “nado contra a correnteza” da unanimidade, que insiste em defender a maravilhosa personificação de Hugh para nosso amado Carcaju, entusiastas dizem que o papel lhe caiu como uma luva, que o ator se dedicou tanto que é impossível dissociar Wolverine de Jackman… Essas declarações pouco ou nada me assustariam se viessem apenas do público “civil” (termo que usamos para designar o público não iniciado no mundo nerd), porém fico estupefato ao entrar em sites especializados e constatar o coro em uníssono idolatrando está dita adaptação… Malham os filmes, os roteiros, as direções o “design de som” (se é que alguém sabe que merda é essa), mas nunca o Wolverine, nunca Hugh. Depois de cinco aparições em filmes dos X-Men (conto aqui com a ponta dele em First Class, por ser talvez a única vez que realmente tive o vislumbre do Wolverine dos quadrinhos, ainda que gigante) e dois filmes solos (desnecessários) temos aproximadamente seis filmes solos do Wolverine sendo quatro deles com participações dos outros X-Men e ainda assim não tivemos a oportunidade de ver uma encarnação digna do nosso perigoso Glutão. Fico bestificado que com tantos elogios da crítica especializada ele não tenha ainda sido indicado ao Oscar de “melhor personagem adaptado dos quadrinhos”, acredito que num futuro próximo Hugh Jackman tenha mais filmes como Wolverine do que Maryl Streep indicações ao Oscar.

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Uma imagem vale mais que seis filmes!

Mas a essa altura você paciente leitor deve estar se perguntando: Qual o problema? Ele não é um bom Wolverine? E eu lhe respondo: Nenhum, inclusive ele é um grande atrativo para os filmes, pensem: Ele é alto, bonito, um líder nato com um quase jeitão de bad boy que nunca abandona um companheiro, nunca pensa em si mesmo, está sempre pronto a ajudar a todos, quase sempre resolve os problemas da equipe, inclusive ajuda a equipe a se manter unida, é um exemplo para os X-Men mais novos e etc… Seria perfeito se o Wolverine dos quadrinhos tivesse pelo menos uma dessas qualidades ou adjetivos acima citados. Ai em cima está descrito com exatidão, o Superman, Capitão América (e pra ficar nos X-Men) O Ciclope, mas nem de longe o Logan das HQs. Caso houvesse um apocalipse zumbi, alguma catástrofe natural, invasão alienígena ou coisa que o valha e todas as HQs do Wolverine e dos X-Men se perdessem, sobrando apenas suas versões cinematográficas, as gerações futuras teriam nosso amigo James Howlett como um líder, uma personalidade magnética, um cara em quem você pode confiar para deixar seu filho que tudo gela, ou sua filha que em ninguém pode tocar. Um cara de coração bom e altruísta. Entendo perfeitamente que qualquer pessoa que não tenha tido contato com o personagem antes dos filmes, ou com a ótima adaptação dos desenhos animados da década de 90, seja fã desse Wolverine… Agora, os iniciados? Os nerds? Os leitores de Wolverine? Para esses não há explicação… E já escuto o coro me achincalhando: “Você é um fanboy chato do caralho!” “Deixa de ser ignorante seu Wolverinete, cinema é cinema e quadrinho é quadrinho!” “Seu babaca, você não sabe que é uma adaptação?” E eu concordo com todas essas afirmações, porém lhes pergunto: O que restou nessa “adaptação” que seja próximo ao nosso querido Logan? Se não contarmos o final de Wolverine Imortal: As garras. O Wolverine dos bons tempos e também a versão maravilhosa da linha Ultimate, dá sentido ao termo anti-herói, é mais animal do que gente, tanto nos poderes quanto nas atitudes, o cabra não liga pra ninguém além dele, é certo que ficou nos X-Men justamente para conseguir mudar isso, mas constantemente perde para seus instintos e está sempre regredindo, sem falar que ele é um assassino perfeito. Dentre tantas outras coisas que eu poderia citar como diferenças gritantes entre o original e a adaptação, escolho essas:

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Ele é feio, baixinho, instável e mortal. Em qualquer HQ icônica e relevante para o nosso anti-herói ele carrega essas características. Comecemos por analisar sua aparência. Seria, na minha desprestigiada opinião, natural transformar o Wolverine em galã se as HQs e os filmes de heróis não estivessem repletos deles, sim, praticamente todo herói é lindo e alto, existem também heróis que representam praticamente todas as minorias, temos heróis negros, gays, portadores de necessidades especiais, mas dificilmente, raramente, temos um herói feio e baixo, sim, temos até heróis gordos… Mas feios? Baixos? Nunca! Então em 1974, por acaso ou não (nunca saberemos) Len Wein brilhantemente criou um mutante feio e baixinho, tão foda… Mas tão foda, que já chegou saindo no braço com o Hulk e o Wendigo ao mesmo tempo. Claro que o responsável pelo seu sucesso foi o genial Chris Claremont, mas o importante é o fato de um dos heróis (ou anti-herói, já estou perdido) mais fodidos (em todo e qualquer sentido) era baixinho e feio, representando então uma classe de pessoas nunca antes lembrada pelos quadrinistas de super heróis. Somasse também o fato de sua aparência ser inspirada no animal que lhe empresta o codinome, que apesar de nanico, é capaz de enfrentar (e até matar) um urso polar.  Claro que alguém dirá que isso é irrelevante, é pura implicância de minha parte. Para esse eu digo: Qual o sentido de manter o codinome Wolverine se essa “versão” pouco ou nada lembra o Mustelídeo?

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Que simpático.

 E se ainda defenderem que sou um purista, lhes pergunto: Por que raios o Peter Jackson despendeu tanto tempo e dinheiro em efeitos para fazer os Hobbits e os Anões? Porque não deixar os atores em tamanho natural, economizar uma grana e depois chamá-los de: “adaptações cinematográficas”?  Você se importaria de ver um Anão de um metro e oitenta? Um Hobbit de um e oitenta e cinco? Fico aqui pensando o que teria sido o Senhor dos Anéis se tivesse caído nas mãos de Bryan Singer (ou o inverso é claro).  Quanto a sua instabilidade e letalidade, que poderiam muito bem terem sido retratadas (pois não feririam os padrões de beleza Hollywoodianas, mas talvez afastasse o público infantil), ficamos também a ver navios. Sempre que se precisa de alguém pra limpar a merda e matar com eficiência, nos quadrinhos, Nick Fury recorre ao Capitão América? Thor? Homem de Ferro? Não, no universo Marvel só dois caras tem culhões, sangue nos olhos e completa ausência de remorso para fazer o trabalho sujo: Frank Castle  e Logan, mas nem isso podemos ter no cinema, temos de nos contentar com alguns ninjas mortos (e cá entre nós, matar ninja é coisa de sessão da tarde) e um ou outro “militar-do-mau-que-invadiu-uma-escola-pra-matar-criancinhas”… E olhe lá… Nada de fúria animalesca, nada de bestialidade descontrolada, só uma morte aqui e outra ali, insípida e inodora. Só pra constar, nas HQs seus companheiros perdem mais tempo tentando evitar que ele mate e ou rasgue alguém, do que combatendo seus inimigos, vide “Dias de Um Futuro Esquecido” (a HQ é claro). E mesmo assim, mesmo com todas essas diferenças “básicas”, ele ainda parece ser um exemplo de adaptação bem sucedida na opinião dos especialistas.

Encerro aqui meu longo desabafo com, talvez, uma das frases mais emblemáticas das HQs:

“ My name is Wolverine. I’m the best there is at what i do, but what i do isn’t very nice”*

(Por favor seja sincero… Essa frase, na sua opinião, faz algum sentido se dita pelo Hugh no cinema? E se você, caro colega, for cara de pau o suficiente para dizer que sim, me esclareça exatamente no que ele é o melhor.)

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*“Meu nome é Wolverine. Sou o melhor naquilo que faço, mas o que eu faço não é muito agradável”  (Google tradutor)

 

Hadouken!!

4 comentários sobre “Sobre Galãs e Adamantium ou “Diga uma mentira várias vezes até que ela se torne verdade”.

    • andrecruzx disse:

      Concordo plenamente Aranha… E com ctz com o Tarantino ia ser um banho de sangue… Se bem que de pois do que Park Chan-wook fez no Old Boy eu tbm apostaria no cara… Agora o cara que poderia ter sido o Carcaju era o Chaerles Bronson quando novo… da uma olhada em “Sete Homens e Um Destino” ou “Os Doze Condenados” é o próprio!

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  1. Douglas Castro disse:

    Ótimo texto. Também não acho o Hugh Jackman essa coca-cola toda como Wolverine. Geralmente quem considera ele tão perfeito como Wolverine, só pensa assim devido ao fato de ter crescido com ele sendo o Wolverine.

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